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A luz da vela dava de chapa sobre a fotografia. Hermano olhou e viu pela primeira vez o retrato. Reconheceu o vulto, a atitude, o gesto, as roupas as jóias e uns matizes indefiníveis que só ele talvez percebesse. Era Julieta: mas através da sombra de Julieta, ao longe, como uma estrela imersa no azul surgia a imagem luminosa de Amália.

Foi então que esse cérebro já tão exaltado precipitou-se na derradeira e mais violenta das alucinações que o tinham abalado. As duas mulheres que Hermano havia amado neste mundo, erguiam-se em sua alma, como duas soberanas em campo de batalha, para disputarem o seu despojo.

Quando já a consciência da realidade o ia abandonando, ouviu rumor na casa e teve Um rápido momento lúcido para recear que o viessem perturbar na consumação de sua idéia sinistra. Ergueu-se e saiu fora, lembrando-se de fechar a porta, para que não se escapasse o gás, já condensado no aposento.

Foi mesmo às escuras trancar a comunicação para o fundo da casa onde estavam os criados, e livre do receio, caiu de novo no delírio, que o havia acometido, e no qual se apagaram os últimos lumes da razão.