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lhe falara com tanta amizade e calor o Henrique Teixeira. Todas as particularidades de sua conversação com o médico lhe acudiram à mente. Esquecendo o dueto, repassou de memória as palavras que ouvira acerca do viúvo e então, como já não estava dominada do sestro de motejar e meter a ridículo tudo quanto era sentimental, compenetrou-se mais das observações do doutor e dos fatos por ele referidos.

Quando absorta nestes pensamentos olhava o edifício meio oculto pelos bambus e avermelhado pelo arrebol, viu Hermano que passava entre as árvores, e aproximava-se do banco favorito. A moça, disfarçando a sua curiosidade, recolheu o airoso busto na penumbra da coluna, para observar o solitário passeador, que se sentara a pequena distância do muro da chácara, em lugar onde ela o via perfeitamente por entre a folhagem.

Impressionada pela narração de Teixeira, examinou a fisionomia, e notou que ela não tinha nesse momento a expressão de recolhimento e abstração própria do homem que está só. O seu olhar não era de contemplação; animava-o o raio do espírito em comunicação com outro espírito: não era o olhar que vê, mas o olhar que fala, que transmite a impressão em vez de recebê-la.