Uma vez Hermano ergueu-se; foi até a platibanda, colheu uma flor, um lírio, e tornando a seu lugar, conservou-o na mão com o gesto expressivo de quem o mostrasse a outrem sentado à sua direita.
Então operou-se em Amália um fenômeno psicológico, estranho para ela que vivia unicamente no presente, porém em si mui natural e freqüente. Assim como na tela de um transparente as figuras assomam de repente quando as colocam a contraluz, da mesma forma na memória da moça desenharam-se cenas da infância esquecidas por tantos anos.
Pareceu-lhe que via como outrora os dois noivos sentados no mesmo banco à sombra dos bambus. Uma tarde, Hermano tinha colhido a mais linda flor do lírio e a apresentara à mulher dizendo-lhe:
-- É a tua imagem.
-- Então guarda-a, respondeu a mulher; e inclinando-se sobre a flor, bafejou-a com o hálito. Dei-lhe um pouco de minha alma.
A travessa menina debruçada sobre o muro ouvira esse rápido diálogo, de cujas palavras agora se recordava como se as estivesse escutando. Hermano tinha guardado a flor, que ele aspirava com delícia, sorrindo à mulher.