Página:Eneida Brazileira.djvu/116

Wikisource, a biblioteca livre

D’alêm cervos, ligeiros a planicie
Transpondo, aos esquadrões pulverulentos
Ennovelam na fuga, e as brenhas deixam.
Mas no ardido ginete o moço Ascanio
175Dos valles folga em meio; e aquelles passa,
Estes pretere, e anhela que um javardo
Surda espumante d’entre o bando inerte,
Ou que fulvo leão da serra desça.
Entra a embrulhar-se o céo múrmuro e rouco:
180De involta cahe saraiva e grossa chuva;
E a tyria comitiva e os jovens teucros,
Do medo atropelados, e o dardanio
De Venus neto, agreste abrigo esparsos
Buscam: ribeiras das montanhas ruem.
185Vam-se á mesma caverna Dido e Enéas;
Tellus sinal deu logo e Juno prónuba:
Corisca, e o ether sabedor das bodas
Fulge, e no cimo as nymphas ulularam.
Este o dia lethal, dos males causa:
190Reputação, decoro, nada a move;
Nem mais Dido medita amor furtivo;
Chama-o consórcio, e o nome he véo da culpa.
Já corre a Fama as lybicas cidades;
Nem ha contagio mais veloz que a Fama.
195Mobil vigora, e fôrça adquire andando:
Tímida e fraca, eis se remonta ás auras;
No chão caminha, e a fronte ennubla e esconde.
Da ira dos deuses Terra mãe picada,
Posthuma a Celo e Encelado, he constante,
200De pés leve engendrou-a e de azas lestes:
Horrendo monstro ingente, que, oh prodigio!
No corpo quantas plumas tem, com tantos
Olhos por baixo véla, tantas linguas,
Tantas bôcas lhe soam, tende e alerta
205Ouvidos tantos. Pelo céo de noite