Página:Eneida Brazileira.djvu/117

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Revoa, e ruge na terrena sombra,
Nem os lumes declina ao meigo somno:
De dia, em celsa tôrre ou summo alcaçar,
Sentada espia e as capitaes aterra;
210Do falso e ruim tenaz, do vero nuncia.
Vária e palreira então com gaudio os povos
Aturde, e o feito e por fazer pregoa:
Que o varão teucro he vindo, ao qual dignava
Juntar-se a bella Dido: e, longo o inverno,
215Em braços da volupia, em luxo torpe
Se acalentando, os reinos esqueciam.
Isto de bôca em bôca a feia deusa
Diffunde, e o curso para Iarbas torce;
Brada, inflamma-lhe o peito, iras cumula.
220De Ammon filho e da rapta Garamante
Nympha, em amplo dominio ao pae cem bravos
Templos, cem aras poz; e um fogo eterno
Sagrou, dos deuses vivas sentinellas;
E o solo pingue do cruor das rezes,
225E em mil festões florentes liminares.
Fóra de si, da nova amarga acceso,
He voz que aos céos humilde alçara as palmas:
«Soberano, a quem brinda a maura gente,
Banqueteada em marchetados leitos,
230Reparas nisto, ó padre? ou com torcidos
Raios, cegos fuzis, trovões ruídosos,
Por demais nos assustas e apavoras?
Mulher que merca, errante em nossa extrema,
Para exigua cidade um chão foreiro
235E ara uma praia, as bodas repulsou-nos,
No reino admitte por senhor a Enéas!
E esse Páris, guiando uns semiviros,
Guedelha mádida em meonia mitra
Sob o mento enlaçada, o rapto logra:
240Templos encher-te, fomentar nos baste