Saltar para o conteúdo

Página:Eneida Brazileira.djvu/119

Wikisource, a biblioteca livre

E vendavaes: de infusa neve a espadoa
Fórra, do queixo precipita rios,
E em caramello enrija horrida barba.
Mercurio, equilibrando-se nas azas,
280Paira; de chofre atira o corpo ás ondas:
Qual gaivota que, as praias e piscosos
Cachopos rodeando, humilde alêa
A’ flor das aguas; entre o céo e a terra
Cyllenio, ao longo da arenosa costa,
285Do avô desce materno e os ares sulca.
Assim que a planta alada os palhaes toca,
A fundar casas, torreões, castellos,
Descobre Enéas, cuja espada o fulvo
Jaspe estrellava, e aos hombros a descuido
290A capa em tyrio múrice lhe ardia,
Lavor das proprias mãos da rica Dido,
De aurea tela a mais fina entrelaçado:
«Que! lanças de Carthago os alisserces
E lindos muros maridoso traças?
295Teu reino, ah! tudo esqueces! O alto nume,
Cujo acenar abala o Olympo e o mundo,
Veloz do claro pólo a ti me envia:
Que meditas? na Lybia com que intuito
Gastas esse vagar? Se não te excita
300Glória tanta, nem lidas e te afanas
Trás o louvor, no teu herdeiro attenta,
No pullulante esperançoso Iulo,
De Italia ao sceptro e a Roma destinado.»
Nem acaba o Cyllenio, e os mortaes visos
305Depondo, em fumo se esvaece tenue.
Deste aspecto hirta a coma, a lingua presa,
Do aviso e mando summo o heroe pasmado,
Ir-se e largar anceia as doces margens.
Ai! que ousará? frenetica a raínha,
310Com que ambages dispôl-a, com que exordios?