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Página:Eneida Brazileira.djvu/122

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De Carthago se a ti Phenissa prendem,
Na Ausonia estranhas que os Troianos fundem?
Novos reinos he lícito habitarmos.
A mim do padre Anchises, quantas vezes
385De humida sombra a noite enlucta o globo,
Quantas surgem igníferos luzeiros,
Insta em sonhos, me aterra a torva imagem;
Turba-me o tenro Ascanio, o vituperio
De cabeça tam cara, a quem defraudo
390Do hesperico dominio e fataes campos.
Inda ha pouco, da parte do Tonante
O intérprete divino (ambos attesto)
Frechando as auras trouxe-me recados:
A’s claras eu vi mesmo entrando os muros
395O deus, bebi-lhe a voz nestes ouvidos.
De inflammar cessa a mágoa tua e minha:
Não espontaneo para Italia sigo.»
Emquanto elle discorre, aversa o encara;
Tacitos lumes volve, e o mede e estronda:
400«Nem mãe deusa, nem Dárdano has por tronco;
Gerou-te o Caucaso em penhascos duros,
Traidor! mamaste nas hircanas tigres.
Que dissimulo[1]? a que desdem me guardo?
Deu-me ao pranto uma lagrima, um suspiro?
405Da amante se doeu! dignou-se olhar-me?
Que affronta he mais pungente?... Ah! que até Juno
Nem Saturnio isto vê com rectos olhos.
Fé segura não ha. Naufrago e pobre
O recolhi, demente o puz no throno,
410Do estrago as naus remi, da morte os socios.
Ai! que incendida as furias me arrebatam!
Ora agoureiro Apollo ou sortes lycias,
Ora expedido o intérprete de Jove
Traz pelas auras horridos mandados.
415Dos supremos que emprêgo! uma tal ância

  1. No original, "dissímulo".