Saltar para o conteúdo

Página:Eneida Brazileira.djvu/123

Wikisource, a biblioteca livre

Quebra o seu repousar. Nem te detenho,
Nem te refuto. Para Italia segue,
Sim, busca imperios pelas bravas ondas.
Se os numes valem pios, certo espero
420Que entre escolhos supplicios mil devores,
E invoques a miude o nome Dido.
Com negro facho ao longe hei de acercar-te;
E, quando a morte fria aos orgãos solva
O almo alento, ser-te-ei contínua sombra;
425Terás o pago, hei-de, perverso, ouvil-o,
A nova ha de baixar-me ao centro escuro.»
Nisto, corta-lhe a práctica, á luz foge,
Some-se afflicta, e o deixa embaraçado,
Muito dizer querendo e receando.
430Levam-na em braços á marmorea alcova,
E a deitam nos coxins desfallecida.
Bem que deseje mitigal-a Enéas
E remover-lhe as penas compassivo,
Sôlto em ais, do amor grande combalido,
435Cumpre as ordens comtudo, as naus revista.
Afervoram-se os Teucros, desencalham
Celsos baixéis; crenado o casco nada;
Frondentes remos trazem, toscos robles,
No afôgo de abalar. De muda os viras,
440Da cidade em torrentes borbotando.
Em tulha assim de farro dam formigas
E em casa o põem, do inverno precatadas;
Campêa o negro exército, entre as hervas
Por trilha estreita acarretando a presa:
445Parte hombros mette e grossos grãos empurra;
Parte urge os pellotões, pune as ronceiras:
Da pressa e afã toda a vereda ferve.
Ao contemplal-o, que sentias, Dido?
Quaes teus gemidos, de cimeira tôrre
450Das praias enxergando o borborinho