Página:Eneida Brazileira.djvu/125

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Elle se agarra, e quanto com seu pico
Penetra o ethereo céo, tanto profunda
No Tartaro a raiz: não de outro modo
Assiduas vozes mil o heroe combatem,
490E a grande alma suspira; a mente immovel
Persiste, e rodam lagrimas baldias.
Dos fados treme Dido e a morte exora;
Da azul abobada aborrece o aspecto.
Na tenção mais se afinca e a luz detesta,
495Quando o leite (que horror!) nos sacros vasos
Vê negrejar, e os derramados vinhos
Irem-se convertendo em sangue impuro.
Tal visão cala, nem da irmã confia.
Ao defunto Sicheu nos paços houve
500Marmoreo templo, em que ella se esmerava,
De vellos niveos e festões ornado.
Alli, tantoque a noite obumbra as terras,
Crê perceber queixumes e o marido
Mesto chamal-a, e solitario bufo
505Nas grimpas feral verso estar carpindo
E com tristura em flebil tom piando:
Cem velhas predicções a aterrorisam.
Enfurecida, o mesmo fero Enéas
Em sonhos a perturba, e se imagina
510Sempre sózinha, ao desemparo sempre,
Ir por veigas extensas, por desertos,
Em busca dos seus Tyrios. Tal, demente,
Pentheu figura batalhões de Eumenides,
Gêmeo o Sol, duas Thebas: tal, nas scenas,
515Da mãe foge aos brandões e ás negras serpes
Vexado o Agamemnonio, e as flagellantes
Erinnyes topa ao limiar sentadas.
Mal que á dôr cede e, as furias concebendo,
Morrer decreta, o como e o quando elege;
520E a triste Anna accorrendo, com disfarce,