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ENEIDA. — LIVRO I.
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Da filha osculos liba, e assim pondera:
«Poupa esse medo, Cypria; immotos jazem
Dos teus os fados: nas lavinias tôrres
Has de revêr-te, e alar sôbre as estrellas
275Teu grande Enéas. Jupiter não muda.
O heroe na Italia (esta ancia te remorde,
Vou rasgar-te os arcanos do futuro)
Guerras tem de mover e amansar povos,
E instituir cidades e costumes,
280Ao passo que reinando o vir no Lacio
Terceiro estio, e os Rutulos domados,
Forem-se tres invernos. Posto ao leme
Ascanio, que hoje Iulo cognominam
(Ilo, em quanto florente Ilion se teve),
285Cerrando os mezes trinta largos gyros,
Ha-de, a séde lavinia trasladada,
Alba longa munir e abastecel-a.
Os Hectoreos aqui trezentos annos
Já reinarão, quando a vestal princeza
290Ilia parir a Marte gemea prole.
Da nutriz loba em fulva pelle ovante,
Romulo ha de erigir mavorcios muros,
E á recebida gente impôr seu nome.
Métas nem tempos aos de Roma assino;
295O imperio dei sem fim. Té Juno acerba,
Que o mar ciosa e a terra e o céo fatiga,
Transmudada em melhor, tem de amparar-me
Do orbe os senhores e a nação togada.
Praz-me assim. Manem lustros, que inda a casa
300De Assaraco ha de ser de Phthia e de Argos
Senhora, e agrilhoar Mycenas clara.
D’Iulo garfo egregio, em nome e glória
Succedendo, as conquistas no oceano
Cesar teminará, nos céos a fama.
305Nos astros sim, de espolios do oriente