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Página:Eneida Brazileira.djvu/174

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51-54. — 51-54. — Faz Gaston aqui um reparo assás razoavel: «Se o heroe tivesse a faculdade de reflectir, nada prometteria acima das suas posses. Captivo em Mycenas, poderia celebrar em honra de Anchises pompas funebres e solemnes? Por certo que não; mas folga-se de vêr um terno e religioso filho crêr que nada he impossivel ao amor que tem a seu pae.»

64-71. — 65-72. — Delille faz começarem os jogos no outro dia, começando-os o poeta no nono. O ore favete omnes, equivalente ao Favete linguis de Horacio, era a fórmula com que os sacerdotes, no encetar o sacrificio, impunham o silencio. Segundo porêm Seneca (de Vita beata, cap. 27) o silencio podia não ser absoluto, mas vedava-se toda palavra profana. Diz tambem Horacio: «Male ominatis parcite verbis.»

77-83. — 77-84. — Virgilio, a quem seguiu Ovidio, attribue a Enéas as instituições religiosas dos Romanos, e as descreve quaes ainda se usavam; o que era interessantissimo[1] aos contemporaneos: isto mostra o caso que nos cumpre fazer de La Harpe, o qual julga demasiados os sacrificios que celebra o heroe piedoso. Este crítico, bom no ajuizar a literatura franceza, pouco versado era na antiga, e não muito na literatura estrangeira. — Jarra verte carchesium; que era, segundo Atheneu, poculum oblongum, in medio leviter compressum, auribus utrimque ad fundum usque pertinentibus: as jarras tem uma fórma semelhante. Para os que julgarem o termo portuguez insufficiente, adoptando eu o latino, assim mudo os meus versos 78-79: «Libando em regra, dous carchesios vasa, De leite fresco dous, dous outros... etc.»

84-95. — 85-98. — Sob a fórma de serpentes se representavam os genios dos heroes e dos lugares, como aqui Virgilio. Era a serpente o symbolo da patria, da vida, da saúde, da immortalidade, da astucia, do anno, entre os povos antigos. Gaston cita o reparo de alguns sôbre ser este animal venenoso consagrado como attributo do deus da saúde, e diz que, segundo Pausanias, este privilegio tinha só uma especie de côr tirante ao amarello, destituída de peçonha. Em verdade, assim no velho, como no novo mundo, muitas ha innocentes: podiam comtudo as mesmas que o não sam vir a ser o attributo daquelle deus, por allusão á medicina que emprega os venenos para cura de muita molestia; e a vida longa dellas, que suppõe constante saúde, explica a razão por que eram dedicadas a Mercurio, e symbolizavam a immortalidade. Os selvagens da nossa America ácêrca destes animaes tem opiniões bem semelhantes ás dos antigos.

96-97. — 99-100. — Bimas quer dizer de dous annos; corresponde

  1. No original, está interessentissimo.