Página:Eneida Brazileira.djvu/209

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A durar este dom, crêrieis, deuses,
Nimio possante a geração romana.
Que ais no campo vizinho aos marcios muros!
Ou de que funeraes, entre o sepulcro
910Recente resvalando, ó Tiberino,
Testemunha serás! Nenhum mancebo
Da gente iliaca os avós latinos
Tanto ha de esperançar, nem de outro alumno
O romuleo paiz jactar-se tanto.
915Oh piedade! oh fé prisca! oh dextra invicta!
Ninguem impune o arrostaria armado,
Quer a pé remettesse, quer d’esporas
Os do espumeo ginete ilhaes picasse.
Guai[1]! joven miserando, asperos fados
920Se a romper chegas, tu serás Marcello.
Dai-me ás mancheias lirios, dai-me rosas:
De esparsas flores eu cumule o neto;
A alma do vão tributo ao menos logre.»
Assim, no espaço aereo vagueando
925Por essas regiões, tudo examinam.
Depois que o padre o instrúe, e de renome
No ardor o abraza, as imminentes guerras
Ao filho explana, e os povos de Laurento
E de Latino a côrte lhe annuncia,
930E como o risco evite e como o soffra.
Do Somno ha dous portões: sahida, contam,
O córneo facilita ás veras sombras;
Do que he de alvo marfim, terso e nitente,
Mandam falsas visões á luz os manes.
935Pelo eburneo, entretendo a vate e o filho,
Os encaminha Anchises e os despede.
Para as naus corta, aos seus reverte Enéas.
Corre a costa e a Caieta vai direito.
Da proa botam ferro, a pôpa atracam.




  1. No original "quai", erro tipográgico.