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Página:Eneida Brazileira.djvu/230

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Cervo galhudo havia, airoso e lindo,
Que de mama furtado á mãe nutriam
Os filhos de Tyrrheu, dessas devesas
Couteiro e maioral do armento regio.
490De galantes festões ao docil bruto
Meiga a irmã Silvia entretecia os cornos,
Penteado e lavado em fonte pura.
Da dona á mesa afeito e manso, errava
Pela selva, e de noite, ás vezes tarde,
495Se recolhia á casa. Andando a monte,
Brabas de Iulo as perras o acossaram,
Quando, seguindo a vêa de um regato,
Se refrescava na virente riba.
Na ancia de eximios gabos, do arco as pontas
500Junta e despara o caçador a frecha:
Não faltou nume á dextra; a rechinante
Canna ao cervo traspassa ilhaes e ventre.
A gemer o quadrupede, sangrado
Procura o nóto asylo, e de lamentos,
505Quasi implorando, enchia alvergue e pateo.
Silvia acode, e ferindo-se a punhadas,
Aos duros aldeões clama socorro.
Elles (picava-os a embrenhada peste)
Sahem de improviso; de nodosa estaca,
510De fustes e tições, do que á mão tinham,
A ira os arma. Tyrrheu, que um roble em quatro
Rachava á cunha, respirando ameaças,
Ferra o machado, a multidão concita.
Nociva a tempo, da atalaia a Dira
515Monta á choça, e do cume a voz tartarea
Na encurvada corneta esforça e tange
Rebate pastoral: todo em redondo
Retremendo o arvoredo, a funda mata
Reboou. Longe o ouviu da Trivia o lago;
520Branco de agua sulphurea o Nar e as fontes