Página:Eneida Brazileira.djvu/229

Wikisource, a biblioteca livre

De travez ella o empurra, duas cobras
Da grenha irriça, o latego estalando,
E com rabida bôca assim troveja:
«Eis-me caduca, tonta e carunchosa,
455Mettediça entre os rêis com vãos terrores.
Olha, da estancia das irmãs tremendas
Trago em mão guerra e morte.» Inda vozêa,
E a Turno um facho atira de atro lume,
Que fumegante no íntimo cravou-se.
460Espantado elle acorda, em suor tendo,
Que dos poros rebenta, ossos e membros;
Louco por armas grita, armas no leito
Busca e em tôrno. Braveja o amor do ferro,
A impia insania da guerra, e cresce a raiva:
465Qual da undante caldeira quando ao bôjo
Lignea flamma se applica estrepitosa,
A agua enfurece e ferve, em bôlhas salta;
Fumea espumando a enchente, sem conter-se
Trasborda, e vai-se em turbidos vapores.
470Manda ao rei informar que a paz quebrou-se,
De petrechos provêr, guardar a Italia,
Expellir das fronteiras o inimigo;
Contra o Latino e o Teucro elle só basta.
Mal que as ordens promulga e invoca os deuses,
475Á competencia os Rutulos se exhortam:
Uns move do mancebo a galhardia;
Uns seu preclaro sangue, ou forte braço.
Alecto, emquanto os seus Turno acorçoa,
Com novo ardil, ás azas dando estygias,
480Cata o sítio e ribeira onde caçava,
De assalto ou de emboscada, o bello Ascanio.
Presto a cocycia virgem, com sabido
Cheiro iscando os focinhos, de um veado
Á pista assula os cães: este o motivo
485Que os camponios atiça e a guerra atêa.