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Página:Eneida Brazileira.djvu/262

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Tithonia, a filha de Nereu dobrou-te:
Olha que povos, que cerradas praças
Em meu damno e dos meus o alfange amolam.»
Aqui recurva a Cypria os níveos braços,
385Com molle amplexo afaga o deus remisso;
A nota chamma aquece-lhe os tutanos,
Penetra o ardor nos quebrantados ossos:
Como quando estrondoso ignito sulco
Percorre coruscante as rôtas nuvens.
390A bella o aventa, e conscia o ardil applaude.
De eterno amor captivo, então Vulcano:
«Que remotas razões! de mim, ó déa,
Já duvîdas? Se igual empenho houveras,
Armaramos os Phrygios; não vedavam
395O pae summo e o destino que dez annos
Priamo inda reinasse. E pois desejas
Combater, esmerar-me eu te prometto
No que de ferro e de fundido electro
Possa obrar sôpro ou forja. Os rogos cessem,
400Confia em teus encantos.» E abraçando
A gozosa consorte, em seu regaço
N’um suave repouso adormeceu-se.
Do primo somno, ao descahir das horas,
Se despertava; e a dona que só vive
405Da roca e tenues obras de Minerva,
Suscita as cinzas e sopítas brazas,
Addindo a noite ás lidas, e em tarefa
Longa ante o lume as famulas exerce,
Por manter ao marido o casto leito
410E criar tenros filhos: não mais tibio,
Da fofa cama salta o ignipotente,
E vai de golpe á férvida officina.
Junto á Sicania e Liparis eolia
Se ergue saxea fumante ilha escarpada;
415Lá toa etnéa gruta por cyclopias