Página:Eneida Brazileira.djvu/285

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Minha mãe, do priâmeo prisco sangue,
De Ilio comigo se partou mesquinha,
Por mim de Acestes enjeitou o asylo;
Não saudada, ignorando esta aventura,
280Vou deixal-a; eu não posso com seu pranto,
Por tua dextra e pela noite o affirmo:
Rógo-te que a soccorras e a consoles
Na penuria e viuvez; se esta esperança
Tenho de ti, com mais denodo parto.»
285Abalados os Teucros lagrimavam,
Mórmente Ascanio; a imagem da paterna
Piedade o commovia, e assim perora:
«Tudo prometto, que mereces tudo.
Mãe ser-me-á, de Creusa excepto o nome:
290A quem tal parto produziu compete,
Seja o evento qual fôr, mercê não leve.
Por vida minha, pela qual jurava
Meu pae, a tua mãe e aos teus respondo
Por quanto aqui reservo e te asseguro
295Para o feliz regresso.» Então, choroso,
Do hombro a lamina despe, obra mui prima
Do Gnosio Lycaon, de punhos de ouro,
Embainhada em marfim. Mnestheu, leonino
Hirto espólio velloso a Niso doa;
300Troca o morrião com este o fido Alethes.
Marcham prestes; e ás portas, entre votos,
De jovens e anciãos o que ha de illustre
Os conduz: manda ao padre o nobre Ascanio,
Já com viril prudencia, avisos cautos;
305Que o vento espalha e em auras se esvaecem.
Transpondo os fossos, pela treva em busca
Do inimigo arraial, vam ser primeiro
De exicio a muitos. Vêm na grama esparsos
Ebri-dormentes corpos; empinados
310Na praia os carros; vinhos e homens e armas,