Página:Eneida Brazileira.djvu/290

Wikisource, a biblioteca livre

Radiava no mundo a prima Aurora:
Turno, diffusa em tudo a luz phebéa,
Arma-se e arma os varões, e as bronzeadas
Esquadras cada chefe estimulando,
455Com rumor vário lhes aguça as iras;
E sôbre hastas erectas, insultando-os
Com algazarra, aspecto lastimoso!
Pregam de Niso e Euryalo as cabeças.
Á esquerda os Teucros firmes se postaram,
460Que a dextra os cinge o rio; estam mantendo
Fossos e torreões, com mágoa as frontes,
Bem conhecidas, contemplando fixas
A estillar negra sanie. A Fama adeja
Pelos pavidos muros empennada,
465E de Euryalo á mãe toa aos ouvidos:
Enfia e gela a triste; a lançadeira
Das mãos lhe cahe, e o fio que tramava:
Demente voa, carpe-se ululando;
Entre armas e esquadrões, sobe ás amêas,
470Sem lhe importar perigo, e os ares parte
Com femíneo queixume: «Es tu, meu filho?
Baculo dos meus annos, tu pudeste,
Cruel, negar-me o arrimo? nem, a tantos
Riscos mandado, á genitriz mesquinha
475Déste um adeus sequer? Ai! filho, jazes
Prêa de aves e cães em terra estranha!
Eu mãe, nem te cerrei funerea os olhos,
Nem as chagas lavei, te expondo involto
Na têa que lavrava dia e noite,
480Consolando os pezares da velhice!
Onde os laceros orgãos, rotos membros,
Onde achar? Isto só de ti me resta,
Perigrinei para isto e affrontei mares?
Se ha piedade em vós, morra eu primeira,
485Com vossos dardos, Rutulos, varai-me;