Página:Eneida Brazileira.djvu/322

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Como o javardo, em cannavial nutrido,
Que a dente correm cães, sobejo espaço
No pinífero Vésulo acoutado
E em laurencia lagôa, ao dar nas redes
700Pára, em roncos escuma, ouriça as cerdas;
Ninguem lhe ousa achegar, distantes raivam,
Em seguro gritando e a garrochal-o;
Elle, impavido e attento, os queixos range,
Cospe do lombo a chuva de arremessos:
705Taes, não com ferro em punho, mas de longe,
Desse odioso Mezencio os inimigos
Com rojões e alarida o desafiam.
Prófugo, a velha Córyto e imperfeitas
Nupcias largando o Graio Acron, purpúreo
710Nas galas e cocar, da noiva mimos,
Descose as turmas: o tyrano o enxerga.
Se o leão, que em jejum com fome ronda
Alto curral, fugaz a corça avista
Ou cervo de arduos cornos; sevo e hiante
715Folga, hirta a juba, ás visceras deitado
Ferra-se, e em negro sangue as fauces lava:
Dest’arte vem Mezencio e a chusma ataca.
Tomba expirando Acron, e ao debater-se
Calca o atro chão, cruenta as rôtas armas.
720Ferir desdenha a Orodes que se evade,
Remetter-lhe desdenha um bote cego;
Não destro nos ardis quanto era forte,
Adverso o alcança, mão por mão o aterra;
N’hasta apoiado, o pé lhe imprime sôbre:
725«Eil-o, varões, o heroe da guerra esteio.»
E os seus com elle entoam ledo péan.
Orodes a arquejar: «Serei vingado,
Nem longo exultarás; meu fim te espera,
Este pó vais morder.» Com riso amargo
730O ímpio então: «Morre já; de mim disponha