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Página:Eneida Brazileira.djvu/326

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Ai! doe-me agora o misero destêrro!
Manchei teu nome, Lauso, eu por taes crimes
E odios expulso do paterno solio:
Eu só pagar devera aos meus e á patria,
840Por mil mortes render est’ alma infame;
Respiro, e inda não deixo a luz e os homens?
Eu deixarei.» Na perna a custo se ergue,
Sem da chaga o abater a dôr violenta;
Pede o corsel, da glória companheiro,
845Consôlo seu, que vencedor com elle
Das batalhas sahia, e ao pobre afala:
«Rhebo, ha muito durâmos, se he que muito
Dura cousa mortal: hoje a cabeça
Trarás de Enéas e o cruento espólio,
850E as de Lauso agonias vingaremos;
Ou, se impossivel he, morramos juntos:
Não soffrerás altivo, eu creio e espero,
Mandos alheios nem senhor troiano.»
Monta, e acceita-lhe o bruto a usada carga;
855Onera as duas mãos de agudas hastes;
O elmo reluz, de equina hirsuta coma.
Veloz galopa: o lucto, a insania, o pêjo
No coração referve; agitam furias
O amor paterno, a conscia valentia.
860«Enéas! grita, Enéas!» Ledo Enéas
O reconhece e impreca: «O pae supremo
Queira com Phebo que o duello encetes!»
E, de hasta em reste, avança. Então Mezencio:
«Roubado o filho, aterras-me, assassino?
865O só meio esse foi de me acabares.
Nem temo os deuses, nem me assustam Parcas:
Morrer venho, recebe a despedida.»
Lesto um dardo lhe prega, outro e mais outro,
Em vólta ingente; mas rechassa-os todos
870A aurea copa do escudo. Pela esquerda,