Saltar para o conteúdo

Página:Eneida Brazileira.djvu/353

Wikisource, a biblioteca livre

A aguia de bico adunco urge-o luctante
Mais e mais, e aleando açouta os ares:
Tárchon não menos da tiburcia prêsa
Folga; os Meonios com o exemplo investem.
735Aqui, fadado á morte, o dardo em punho,
Á pista Arunte da veloz Camilla,
Catando a occasião, por onde as turbas
Furente ella penetra, cauteloso
A rodêa, e por onde vencedora
740Do inimigo reverte, a furto o joven
Retorce tacito a ligeira brida;
Esta aberta em circuito e aquella tenta,
Improbo o dardo a menear certeiro.
Chloreu sacro a Cybele, outrora antiste,
745Brilhando em phrygio arnez, mettia o espumeo
Ginete em obra, com xairel de pelle
De enea malha e aureas plumas recamado:
Luz em ferrenha púrpura estrangeira,
Lycio o corno a vibrar cortynias frechas;
750Dourados arco e morrião lhe tinnem;
Crócea a roupa, do linho os rugidores
Seios colhe em nó fulvo, e tem bordadas
A tunica e as barbaricas polainas.
A virgem, porque em templo insignias troicas
755Fixe, ou caçando fulja em aureo espólio,
Cega após elle, sem que os mais lhe importem,
Incauta se abrazava, entre as fileiras,
No amor femíneo da vistosa prêsa.
Eis que a tempo á traição dardeja Arunte,
760Depois que assim depreca: «Summo Apollo,
Do Soracte custodio venerado,
Em cujo culto píneo ardor cevamos,
E afoutos na piedade, em vivas brazas
Entre a fogueira os passos imprimimos,
765Dá-me apagar, ó padre, a nossa injúria.