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Página:Eneida Brazileira.djvu/377

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Ataca os muros. A escalada, o incendio
Cresce: uns ás portas, retalhando os guardas,
A discorrer; o alfange a esgrimir outros;
O ar de tiros se obumbra. Entre os primeiros
560No muro Enéas mesmo a dextra ferra;
Grita e accusa a Latino; os céos attesta
Que á batalha he forçado, que hostilmente
Os de Italia o aggrediram duas vezes,
Duas tambem ás convenções faltaram.
565Dentro lavra a discordia: espavoridos
Uns abrir ao Troiano as portas querem,
E ao muro o mesmo rei comsigo arrastam;
Armam-se outros e insistem na defensa.
Tal, se na cresta o latebroso pomes
570O rustico enche de vapor amargo,
Trépido errando o enxame em cereos vallos
Zumbe, a colera aguça: olor nos tectos
Forte recende, um murmurinho cego
No ouco soa, e no ar se engloba o fumo.
575Mais quebranta os Latinos um desastre,
Que a cidade revolve e em lucto abala:
Vendo a raínha do inimigo a entrada,
Pelas casas o incendio, e que nem Turno
Comparece nem rutula phalange,
580Morto o mancebo no conflicto julga,
E em turbida agonia a triste clama
Que de mal tanto e crime he fonte e causa;
Vocifera sem tento, e furibunda
Rasga o manto púrpureo, e atando um laço,
585De alta viga pendeu com morte informe.
Corre a fatal notícia: as roseas faces
A filha dilacera e as flavas tranças;
Mestas em tôrno as damas esbravejam;
O pranto a régia estruge. Divulgada
590A cruel fama, os corações prosterna: