Página:Eneida Brazileira.djvu/40

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De animo firme em dar aos Gregos Troia,
Ou na empresa acabar. Curiosa acode,
E ávida se atropela e o cérca e apupa
A rapazia. Agora ouve a tramoia,
70Por um crime avalia os Danaos todos.
Perante a multidão, turbado, inerme,
Pára, e olhando circumda as phrygias turmas:
«Que mar, grita, ou que terra ha de acolher-me?
Ai! que me resta? A patria proscreveu-me,
75E os Dardanos meu sangue infensos pedem!»

Tal pranto nos demove e o furor quebra:
Sua estirpe o exhortamos a contar-nos;
Que intento o conduziu, que fé mereça.
Perde o susto o captivo, e assim responde:
80«Toda a verdade, ó rei, sincero expendo.
D’antemão que sou Grego não t’o nego:
Tornar pode a Sinon fortuna escassa
Misero sim, mas embusteiro nunca.
Talvez já te soasse o nome e a glória
85Do afamado Belídes Palamedes;
Que, sendo opposto á guerra, atroz calúmnia
O accusou de traição, e hoje os Pelasgos
Com tardio pezar extincto o choram:
Pobre meu pae, com elle seu parente,
90Mandou-me inda novel seguir as armas.
Quando o reino o attendia e assim medrava,
De algum nome e esplendor tambem gozámos:
Depois que a inveja do manhoso Ulysses,
Deste mundo o tirou, como he notorio,
95Mesto arrastando a vida em treva e lucto,
O supplício traguei do insonte amigo;
Té que, insano a bramir, vingal-o juro,
Se vencedor voltasse ao gremio de Argos,
E asperos odios imprudente afio.
100Daqui mana meu mal; daqui terrivel