Página:Eneida Brazileira.djvu/55

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No equevo rei que derramava o alento
Pela crua estocada, eu me figuro;
Figuro ao desamparo o tenro Ascanio,
Creusa em pranto, os lares saqueados.
595Olho atrás, e procuro os companheiros,
Todos lassos e em dôr me abandonaram,
Despenhando-se em terra ou sôbre as chammas.
Já só de amigos, ao clarão do incendio
Érro, e em tôrno espreitando a cada passo,
600No santuario escondida e taciturna
A Tyndarida enxergo aos pés de Vesta:
Dos nossos pela quéda exasperados,
Dos seus medrosa, do offendido espôso,
Essa Erynnis commum de Grecia e Troia,
605Execrada, entre as aras se acoutava.
A alma abrazou-se-me; iracundo anceio
Vingar na infame a patria agonizante.
«Que! soberana ir esta á sua Espartha?
Incolume, em triumpho, entrar Mycenas?
610Vêr a casa, o marido, e os paes e os filhos?...
E ornem-lhe a pompa iliacas escravas!
E a ferro acabe o rei, queime-se Troia,
E suem teucro sangue as teucras praias!...
Não: se he nulla a victoria, se he desdouro
615Punir de morte a feminil fraqueza,
Louvor seja extinguir este impio aborto;
Farto ao menos a sanha e ardente sêde,
Saciarei de prazer dos meus as cinzas.»

De furias transportado isto profiro,
620Quando a meus olhos, como nunca, pura
A alma Venus, a noite alumiando,
Em divindade manifesta brilha,
Tal qual sohe aos celícolas mostrar-se;
E segurando em mim, com rosea bôca
625Me atalha a genitriz: «Que mágoa, ó filho,