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Página:Eneida Brazileira.djvu/56

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Que indomita paixão te desatina?
Que he dos nossos penhores? onde o idoso
Cansado pae largaste? onde o filhinho?
Vive ainda Creusa? Atroz caterva
630Lhes voltêa em redor; sem meus desvelos
Já tragado os houvera ou gladio ou fogo.
Páris não culpes e a Lacena odiosa;
Dos deuses sim, dos deuses a inclemencia
He que abate e subverte a excelsa Troia.
635Repara: a nuvem que ora os mortaes visos
Te embota humida e baça, eu vou tirar-t’a:
Sem temor obedece á voz materna.
Lá onde esparsas moles e arrancadas
Rochas e rochas vês, e undante fumo
640E ennovelado pó, Neptuno a golpes
Do gran’tridente os muros e alisserces
Alue, e do orbe desarreiga Troia.
Sevissima e em furor, de aceiro e malha,
Convoca Juno, alli nas portas Scéas,
645Das naus os batalhões. Já sôbre as tôrres,
Nota, sentada em lampejante nuvem,
Tritonia agita a Gorgona terrivel.
Jove mesmo acorçoa e esforça os Gregos,
Suscita os immortaes contra Dardania.
650Foge, anda, filho meu, põe termo ás lidas.
Em salvo ao pae te guio, eu não me aparto.»
Dice, e na sombra involve-se. Apparecem
De infensos numes cataduras torvas:
Ilio esboroar em cinzas se me antolha,
655Fundir-se toda a neptunina Troia.
Assim nos altos montes orno antigo,
Se extirpal-o a machado em crebro assalto
Lenhadores porfiam, nuta, ameaça,
Trémula a coma, sacudido o cume,
660Té que aos poucos cerceado, alfim gemendo,