Página:Eneida Brazileira.djvu/60

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Grita; apressa-te, filho; eil-os: deviso
Broquéis ardentes, fulgurantes malhas.»
Não sei que nume infausto hallucinou-me:
Por dévia estranha róta extraviado,
770Ai! misero perdi minha Creusa:
Se o fado m’a roubou, se errou a estrada,
Ou lassa recostou-se, he duvidoso:
Nunca mais a avistei. Inadvertido
Pela ausencia não dou, senão no outeiro,
775Proximo ao templo já da prisca Ceres:
Ahi feita a resenha, ella só falta,
Mallogrando o marido e o filho e os socios.
Que homem, que deus não accusei demente?
Que houve de mais cruel no excidio horrivel?
780N’um fundo valle escondo, e aos companheiros
Os divos encommendo e Ascanio e Anchises.
Corro á cidade em refulgentes armas,
Firme em revirar Troia e em novas luctas
Pôr a cabeça na arriscada empresa.
785Lesto ás muralhas, ao limiar escuro
Da porta vólto que me deu passagem;
Retrocedendo[1], pela noite apalpo,
Os olhos canso em busca das pégadas:
Tudo aterra, o silencio o pavor dobra.
790Talvez, talvez regressaria á casa;
E lá me envio: os Danaos a invadiram,
Dominavam-na toda: o voraz fogo,
Dos ventos irritado, os altos ganha,
Rolando em labareda os ares cresta.
795Prosigo; á régia e á cidadella passo:
E já nos vacuos porticos, no asylo
De Juno, eleitos a velar na presa,
Se postam Fenix e o nefando Ulysses:
Os thesouros de Troia em montões vejo,
800De accesos tectos, saqueados templos,

  1. retrocendo no texto original; erro tipográfico corrigido na segunda edição.