Página:Eneida Brazileira.djvu/86

Wikisource, a biblioteca livre

E iras fataes e depravada fome),
Dize, eia, que perigo evitar urge?
Como superarei trabalhos tantos?»
Já do uso as rezes mata, e exora o antiste
385Aos divos paz, da fronte sacra a touca
Desata, e a mim venerabundo e absorto
Pela mão, Phebo, ao templo teu me guia,
E a prophetica bôca desencerra:
«Com mór auspicio he fé que tu navegas,
390Filho de Venus: tal baralha as sortes,
E as encadêa e liga o rei dos numes.
Porque sulques melhor ignotos mares,
E ancores a teu salvo em pôrto ausonio,
Vai do muito expender-te um pouco Heleno;
395Que o mais, sabel-o as Parcas me prohibem,
Ou fallar veda-me a Saturnia Juno.
Primeiro, a Italia proxima, onde cuidas
Que aportas breve, t’a separa e afasta
Com longas terras ínvia longa via.
400N’agua sicana o remo vergar deves,
E o salso golpho Ausonio, o lago Averno,
E a ilha percorrer de Circe Eéa,
Antes que assento firme estabeleças.
Dou-te os sinaes, conserva-os: quando achares,
405Cuidoso á margem de secreto rio,
De enzinha litoral deitada á sombra,
Grande e recemparida, uma alva porca
A trinta alvos leitões amamentando,
Alli terás descanso, alli cidade.
410Quanto a roer as mesas, não te assustes:
Rumo ha de achar o fado e ouvir-te Apollo.
Destas partes porêm, da extrema Italia
Que as das marés do Jonio enchentes lavam,
Safa-te; sam de Gregos infestadas.
415Aqui fixaram-se os Narycios Locros,