Página:Eneida Brazileira.djvu/92

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Fatigados nos deixa o Sol e o vento:
Dos Cyclópes á costa arribo ás cegas.
Vasto e abrigado o pôrto, ao pé, cimeiro
Com horrificas ruinas o Etna toa:
595Ora, atra picea fumegante nuvem
E candentes fagulhas borbotando,
Flammeos globos despede e os astros lambe;
Ora extirpadas visceras do monte
Vomita e expulsa, e a lava no ar glomera,
600E a mugir no imo abysmo o volcão ferve.
De um raio chamuscado, he voz que pésa
Sôbre Encelado a mole do Etna ingente,
Que das rôtas fornalhas fogo expira;
E, se de lado por cansaço muda,
605Do rebramar toda a Trinacria treme
E o céo do fumo tolda. A noite, occultos
Nas selvas, taes phenomenos cortimos,
Sem do horroroso estrondo a causa vermos;
Que astro nem ar sidereo esclarecia
610O carregado pólo, e involta a Phebe
Tinha em manto nimboso a escuridade.
O albor já despontava, e a nova aurora
Removera a nocturna humente sombra:
Da mata rompe estranha fórma de homem,
615Magro e myrrhado, inculto e miserando;
E ás praias supplicante as mãos estende.
Olhamos: sujo, ascoso, hirsuta a barba,
De espinhos cobre-o andrajo apontoado;
Grego no mais, dos que invadiram Troia.
620A armadura avistando e o phrygio trajo,
Retem-se um pouco, aterrorado estaca;
Logo precipitando-se, a nós corre
Com pranto e rôgo: «Pelos céos obsecro,
Pelos deuses e est’aura que respiro,
625Por onde fordes me levai, Troianos: