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um brado melancolico, em meio da narração mais tranquilla,— JE LE SAIS, bastaram para que Bossuet traçasse com tanta dignidade como comedimento a historia geralmente divulgada do annel que viam brilhar no seu dedo.

Senhores, vos contei esse triumpho do orador sagrado da França; releve-se-me agora que faça o encomio dos merecimentos que, como amigo, ornavam a alma do conselheiro José Maria Velho da Silva.

Já vos disse mais acima que era amigo dedicado, e sabia-o provar quando apparecia a occasião, prestando-se sempre a seus amigos, quando d'elle precisavam. Quantos podem repetir com Bossuet: — Eu o sei!

No seu trato com os seus amigos usou sempre da linguagem da verdade, e em repetidas occasiões soube usar d'ella, quando o exigiu a opportunidade, dirigindo-se ao Sr. Dom Pedro I.

Senhores, é tão raro que os reis ouçam a verdade da boca d'aquelles que os cortejam, que por isso consignou Plutarco á posteridade na vida de Antioco as memoraveis palavras que este monarcha dirigiu aos seus palacianos— depois de ter passado uma noite n'uma choupana, indo de montaria, onde albergou-se sem que os rusticos habitantes d'aquelle lugar o reconhecessem. Diz Plutarco que aquelles simples lavradores criticaram o seu soberano pelo deleixo que mostrava pela felicidade do povo, preferindo a caça ás vidas dos seus vassalos.

Antioco exclamou na manhãa seguinte, vendo-se festejado pelos aulicos: ἀλλὰ ἀφ᾽ ἧς ἡμέρας ἀνείληφα, πρῶτον ἐχθὲς ἀληθινῶν λόγων ἤκουσα περὶ ἐμαυτοῦ. «Desde o dia em que vos tomei ao meu serviço, hontem foi a primeira vez que ouvi fallar a meu respeito a verdade. »

Dom Pedro I ouviu a verdade algumas vezes da boca de