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Depois o céu matisado,
De mil côres enfeitado
Vem-me a mente acalentar;
Solto então todas as vélas —
£ já folgo o vêr como ellas
Correm, voam sobre o mar!

Senhor de todos os mares,
E livre dos crús azares
Que a tempestade nos traz;
Sobrevem-nos a bonança,
E o meu braço ainda não cança
De volver o leme audaz!

Oh! quanto é doce á minh’alma
Depois da procella a calma
Sobre aguas de puro anil; —
Ver o ceu abrilhantado
Inda ha pouco carregado
Na extensão de leguas mil!

Então fresca e meiga aragem,
Como se fôra em ramagem
Bafejada com amor, —
Incha as vélas pressurosas
Por se mostrarem vaidosas,
Ao meu barco de primôr.