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Navego e assim caminhando,
Na minha vida scismando,
Contemplo que sou feliz;
Porque aqui rege a natura
Um só Deus — e a mão impura
Dos homens nada me diz.
Eu não troco a minha vida,
Ainda assim tão desabrida
Nas procellas do alto mar;
Aqui falla a Natureza,
Na terra só ha torpeza,
Risos falsos d’enganar!
Mesmo exposto á tempestade
Tenho ainda a liberdade —
Senhora dos céus e mar!
Não ha aqui ferros tyrannos,
Não ha gestos deshumanos,
Para barb’ras leis dictar!
Livre sou, navego altivo,
Sempre attento e nunca esquivo
Ás furias do vendaval:
E na immensidão destes mares,
Só ás vezes hei pezares,
Saudades de Portugal!