Julieta do céo! Ouve... a calhandra
Já rumoreja o canto da matina.
Tu dizes que eu menti?... pois foi mentira...
Quem cantou foi teu hálito, divina!
Se a estrella d′alva os derradeiros raios
Derrama nos jardins do Capuleto,
Eu direi, me esquecendo d′alvorada:
É noite ainda em teu cabello preto...
É noite ainda! Brilha na cambraia
— Desmanchado o roupão, a espadua núa —
O globo de teu peito entre os arminhos,
Como entre as névoas se balouça a lua...
É noite, pois! Durmamos, Julieta!
Rescende a alcova ao trescalar das flores.
Fechemos sobre nós estas cortinas...
— São as azas do archanjo dos amores.
A frouxa luz da alabastrina lampada
Lambe voluptuosa os teus contornos...
Oh! deixa-me aquecer teus pés divinos
Ao doudo afago de meus labios mornos.
Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Treme tua alma como a lyra ao vento,
Das teclas de teu seio que harmonias,
Que escalas de suspiros bebo attento!
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Aspeto
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ESPUMAS FLUCTUANTES