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A alma dos animaes! Pégo-a, distingo-a,
Acho-a nesse interior duello secreto
Entre a ancia de um vocábulo completo
E uma expressão que não chegou á lingua!
Surprehendo-a em quatrilliões de corpos vivos,
Nos anti-peristálticos abalos
Que produzem nos bois e nos cavallos
A contracção dos gritos instinctivos!
Tempo viria, em que, daquelle horrendo
Cháos de corpos orgánicos disformes.
Rebentariam cerebros enormes,
Como bolhas febris de agua, fervendo!
Nessa épocha que os sabios não ensinam,
A pedra dura, os montes argillosos
Creariam feixes de cordões nervosos
E o neuroplasma dos que raciocinam!
Almas pygméas! Deus subjuga-as, cinge-as
Á imperfeição! Mas vem o Tempo, e vence-o,
E o meu sonho crescia no silencio,
Maior que as epopéas carolingias!
Era a revolta trágica dos typos
Ontogénicos mais elementares,
Desde os foraminiferos dos mares
Á grey lilliputiana dos polypos.
Todos os personagens da tragédia,
Cansados de viver na paz de Budha,
Pareciam pedir com a bocca muda
A ganglionaria céllula intermédia.