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Página:Eu (Augusto dos Anjos, 1912).djvu/38

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Os terremotos que, abalando os solos,
Lembram paióes de polvora explodindo,
A rotação dos fluidos produzindo
A depressão geológica dos polos;

O instincto de procrear, a ancia legitima
Da alma, affrontando ovante aziagos riscos,
O juramento dos guerreiros priscos
Mettendo as mãos nas glandulas da victima;

As differenciações que o psychoplásma
Humano soffre na mania mystica,
A pezada oppressão caracteristica
Dos 10 minutos de um accesso de asthma;

E, (comquanto contra isto odios regougues)
A utilidade funebre da corda
Que arrasta a rêz, depois que a rêz engorda,
Á morte desgraçada dos açougues.

Tudo isto que o terraqueo abysmo encerra
Fórma a complicação desse barulho
Travado entre o dragão do humano orgulho
E as forças inorganicas da terra!

Por descobrir tudo isto, embalde cansas!
Ignoto é o germen dessa força activa
Que engendra, em cada céllula passiva,
A heterogeneidade das mudanças!

Poeta, féto malsão, creado com os succos
De um leite máu, carnivoro asqueroso,
Gerado no atavismo monstruoso
Da alma desordenada dos malucos;