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Página:Eu (Augusto dos Anjos, 1912).djvu/41

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Minha imaginação atormentada
Paría absurdos.   Como diabos juntos,
Perseguiam-me os olhos dos defuntos
Com a carne da esclerótica esverdeada

Seccára a chlorophylla das lavouras.
Igual aos sostenidos de uma endeixa,
Vinha-me ás cordas glótticas a queixa
Das collectividades soffredoras.

O mundo resignáva-se invertido
Nas forças principaes do seu trabalho.
A gravidade era um principio falho,
A anályse espectral tinha mentido!

O Estado, a Associação, os Municipios
Eram mortos. De todo aquelle mundo
Restava um mecanismo moribundo
E uma teleologia sem principios.

Eu queria correr, ir para o inférno,
Para que, da psychê no occulto jogo,
Morressem suffocadas pelo fogo
Todas as impressões do mundo externo!

Mas a Terra negava-me o equilibrio.
Na Natureza, uma mulher de luto
Cantava, espiando as árvores sem fructo,
A canção prostituta do ludibrio!