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A manga, a ameixa, a amendoa, a abobora, o alamo
E a camara odorifera dos sumos
Absorvem diariamente o ubérrimo humus
Que Deus espalha á beira do teu thálamo!

Nos de teu curso desobstruidos trilhos,
Apenas eu comprehendo, em quaesquer horas,
O hydrogenio e o oxygenio que tu choras
Pelo fallecimento dos teus filhos!

Ah! Somente eu comprehendo, satisfeito,
A incógnita psychê das massas mortas
Que dormem, como as hervas, sobre as hortas,
Na esteira egualitaria do teu leito!

O vento continuava sem cansaço
E enchia com a fluidez do eólico hyssópe
Em seu fantasmagorico galope
A abundancia geometrica do espaço.

Meu ser estacionava, olhando os campos
Circumjacentes. No Alto, os astros miudos
Reduziam os Ceus sérios e rudos
A uma epiderme cheia de sarampos!

III

Dormia em baixo, com a promiscua vestia
No embotamento crasso dos sentidos,
A communhão dos homens reunidos
Pela camaradagem da molestia.