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E estais velha! — De vós o mundo é farto,
E hoje, que a sociedade vos enxota,
Somente as bruxas negras da derrota
Frequentam diariamente vosso quarto!

Promettem-vos (quem sabe?!) entre os cyprestes
Longe da mancebia dos alcouces,
Nas quietudes nirvanicas mais
O noivado que em vida não tivestes!

VII

Quasi todos os lutos conjugados,
Como uma associação de monopólio,
Lançavam pinceladas pretas de oleo
Na architectura archaica dos sobrados.

Dentro da noite funda um braço humano
Parecia cavar ao longe um poço
Para enterrar minha illusão de moço,
Como a bocca de um poço artesiano!

Atabalhoadamente pelos beccos,
Eu pensava nas coisas que perecem,
Desde as musculaturas que apodrecem
A’ ruina vegetal dos lyrios seccos.

Scismava no proposito funéreo
Da mosca debochada que fareja
O defunto, no chão frio da egreja,
E vai depois leval-o ao cemiterio!