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esparsos no organismo concreto do Universo. O Ideal é real, desde que radia no mundo creado á parte, na circumvolução cerebral de cada ser. Tudo está em saber accôrdar, com estylo e emoção, esse sonho, onde elle exista, ou na alma do selvagem ou na alma do culto. Para isso os Artistas de todos os tempos produzem as suas Obras que nascem sempre por um movimento de meio inconsciência conceptiva, para serem assim mais fortemente vivas e mais transcendentemente aensacionaes.

Porque o real é cheio de brumas de sobrenatural, o verdadeiro e cheio de brumas de phantastico e no fundo original da grande Causa está o Sonho.

— Ah! Sim! Sim! Clamou o outro, n′um grito de alvoroçado assentimento: — o natural na Arteé o alto Absurdo, é o Absurdo, o Phantastico, Intangivel! Se eu dissesse, em paginas mais tarde, os êxtases volupicos que dominavam no silencio discreto do Seminário, diante da Immaoulada Conceição, doce e cândida no seu rosto de porcellana fina, com aquelles olhos paradisíacos que tanto me approximavam da serena e celeste luz! Se eu dissesse quanta nevróse, quanto delyrio sexual percôri-eu a minha carne n′aquelle solitário noviciado; quanto mysticismo mórbido me