ciliciou a alma; quanto espasmo languido me dominou
o côrpo, certo me julgariam louco... E
depois, quando deixei a paz austera do Seminário,
a sua clausura mesta, os seus hábitos duros;
quando dexei toda aquella vasta, longa melancholia
que dentro d′elle reinava como nevoenta
Visão de meditações e recolhimentos; quando
despedi-me das suas paredes brancas, das suas
torres symbolicas, das suas arvores evangélicas,
da sua fachada ampla e adormecida olhando para
a alegria verde do Mar, — e cahi então na plebéa
profanação da Existência — ah! que complicadas
sensações de praser, de recôrdação, de mundadismo,
de mysticismo, de liberdade, de saudade,
de inexprimivel angustia, promiscuamente vivendo
dentro de mim e viçando os mais tenebrosos,
os mais negros e já agora irremediáveis tédios!
Xo entanto, se eu descrever um dia com fla- grância de tintas, com violências e cruesas, todo este trecho passado da minha vida; se eu lhe der todo o impressionismo abstracto, todo o requinte de sensibilidade e mesmo até de impressões phantasticas, dirão que eu não tenho a mínima observação do Natural, que não observo a verdade inteira, e sou, em tudo, absurdo.
— Bellas palavras, essas, a verdade, a observação!