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Véos diaphanos adelgaçam-se para além da visão terrena! Véos de fímbrias de luar! Véos de scentelhas de luar! Véos de fogos fátuos de luar!

E o ser, mudo, solitário, solerane, pállido, indifferente, msterioso, fugitivo, trágico, bello, horrivel, no espasmo elixirico do somno, dormindo, dormindo aspira, dormindo, dormindo anceia, dormindo, dormindo gósa e sóffre e geme e soluça e suspira e chora para além da outra vida dos sentidos encarcerados no somno e na outra vida do somno sonha com a Morte libertadora, engrinaldada de virgem, esqueleto estravagante de nervosismos e hysterismos terríveis e curiosos de Eternidade, — noiva do Soluço, branca, friamente bella e branca, de um terror que vence, que attráe, que esmaga, e que faz delirar de sinistra magestade e de sinistra belleza.

É que o ser bebeu, esgotou até ás fezes o licor sombrio, taciturno e estranho do somno pelo cálix amargo da Fadiga e ficou embriagado de sombra, vencido de sombra, desceu ao poço cheio de scismas e pezadellos do Nada para no Nada dormir anelando, para no Nada viver dormindo, para no Nada dormir sonhando...

O somno em que elle está embalsamado põe-lhe em torno á fronte fatigada uma auréola