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Elle queria fugir á Vida, fugir, fugir sempre, esconder-se da face do mundo, habitar n′uma furna como selvagem, viver nas florestas como os lobos, errar nos desertos como os

párias.

Fugir para longe dos execrandos contactos dos homens, da medonha estagnação dos seus sentimentos, da descarnada nudez dos seus egoísmos ferozes.

Errar sósinho, sósinho, sombrio visionário peregrino de suprema Aspiração nova, vulto messiânico, talvez um desses graves missionários cujas vidas sacrificadas por uma idêa rasgam-se nos espinhos dos ermos, despedaçam-se nas hostilidades ambientes, martvrisam-se crucificadas nas monstruosas cruzes negras dos calvários tantalicos do Tédio...

Ah! a solidão, o deserto, o deserto!

Que bello e que magestoso o deserto, frio e

só, só cora a lua, só cora o sol, só com as estrellas, caminhando sobre as infinitas areias deso- ladoradôras, sentindo chorar no peito, como negra águia presa e triste, melancholicamente scysraadôra, a que despedaçaram as azas sem piedade, o grande sentimento de uma esperança para sempre extincta.