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nem um soluço abafado — mas que o transfiguravam, que o tornavam livido, mais livido, muito livido e as pernas mais bambas e os braços mais desolados e o olliar mais perdido, mais errante, mais perdido...

E a hora desse dia éra infinita, uma liora que não acabava mais, por um sol que abrasava cada vez mais, incendiava as florestas e parecia não findar nunca! Um dia cruel, interminável, de um sol duro e bruto, pregado impassivel no firmamento, que parecia não ter jamais o oásis repousante de um occaso. Um dia de hora accêsa no espaço, como n′um relógio immutavel. Um dia de século, um dia que elle sentia penetrar, abranger a eternidade, á proporção que ia envelhecendo mais, que lhe cresciam barbas mais longas, rugas mais imponderáveis, tremuras mais senis, mais pavorosos arripios, apezar da cáustica flammejação do sol.

Envelhecia mais, gradualmente, com as arvores, com as florestas, que se cobriam também surprehendentemente de um nevoeiro branco como de cabelleiras de velhice...

Envelhecia, envelhecia e as florestas envelheciam juntas com elle, n′uma fraternidade piedosa de acompanhal-o na mesma suprema e insana desolação, na mesma allucinação da Vida.