Página:Evocações.djvu/46

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estirado ao sol, como certos animaes no periodo da incubação, gozando, sybaritamente, a mórna caricia do eterno clarão fecundante.

Diante da retina coruscavam-lhe deslumbramentos de idéas, com claras, cantantes côres.

Feriam-lhe agudamente a retina, impressionando-a, hypnotisando aquella idyosincrasia fatal, o ensanguentamento dos occasos, os vermelhos clarinantes dos clarões de fogo, os rubros candentes, imflammados, das forjas, os escarlates violentos das purpuras, os alacres rubis de certas tropicaes florações e folhagens, os rubores quentes de certos sumarentos e selvagens fructos, a sulpherina coloração delicada de vinhos tépidos, todos os rubros magestosos, potentes, embriagantes, toda a clamante allucinação dos vermelhos crepitando em sensações de chamma, todas as attroantes fanfarras e gammas infinitas e finissimas das côres como que aperitivas, palataes, genealógicas do Sangue.

Os livros carnalissimos, que porejam luxuria, accendiam-lhe, mais flammejantes, os instinctos sensuaes; e ficava então puro mahometano, revestido em sedas e pedrarias prodigiosas de gozo, nesse lasso luxo oriental em que a Asia se perpetúa como o languido sol decadente das exóticas sensualidades.