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“crescentou elle, pausadamente; as pupilas immoveis.
"—Esquece-se de que é meu irmão... Estimo-o; mas
“não o desejo” — atalhei firme, glacial, sentindo no
“coração os rythmos do meu Poeta adorado e ausente.
— “E´ deveras singular... — disse elle, despedindo-
“se. — Tenha pena de um irmão que sofire...” E
“beijou-me a mão.”

“Ah, como é detestavel o habito! Como, durmo,
“levanto-me... Debalde espero pelos esplendores in-
“terdictos que me surgirão das entranhas dos dias e
“das horas...”

“Amôr, Cupido, Eros, o meu coração nú, fresco,
“faminto, abre-se ás vossas flexas hervadas, á vossa
“raiva florida, ás vossas ciladas efficazes...

“Thêo, Thêo, a vertigem se agarra a mim...
“Minha boca está na tua boca, o vampirismo do
“meu ser pelo teu ser, te suga, te sorve, te destróe...
“Ah! vives em meu senso, como efflorescencias
igneas...”

“Estás pallida... ha traços violetas sob os lindos
“olhos” — observou-me Francisco esta tarde...

“Vivi uma loucura, amei o meu amôr pelas rosas:
“tive d´ellas sobre o corpo branco e fino, seu extase
“divino... No concavo das mãos, ao longo dos bra-
“ços, nos hombros, pelos cabellos debruando-me as
“linhas, separando-me os dedos, no perfil, na boca,
“nos olhos, presas nos dentes, rosas, em abundancia,
“rosas lividas, roseas, escarlates... As rosas da ma-
“nhã a sangrar ardores; as rosas estranhas, violadas
“pela noite; as rosas passivas das sombras; as rosas
“despedaçadas de lascivia; as rosas morbidas, desfei-

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