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“Não tenho adoração para com o homem” — lan-
“cei eu desdenhasa essa phrase a Jorge. — “E´ uma
“finura, uma brilhante excepção... é por isso mesmo
“que me attrahe, — aecrescentou elle, muito calmo,
“serio, a enrolar um cigarro.”

“Não acredito absolutamente na virtude das mu-
“lheres”, — objectou-me Jorge. — “Entretanto, teve
“provas em contrario” — respondi-lhe, orgulhosa. —
“Ah! sim... Mas, presamo haver algum motivo es-
“condido” — verberou elle ironico, a sorrir.”

“Jorge hoje, quando entrou, estava fluidico, ner-
“voso, agitado, parecia ter um demonio no olhar. Du-
“rante uma hora, conservou-se calado, a fumar. De
“repente levantou-se, veio a mim e disse-me abrupto:
““Não sou mais seu irmão... Quero ser seu amante.”
“Percebendo o terror de mens olhos, o gesto prompto
“de repulsa decisiva, gritou-me: —“ Foge, foge, des-
“apparece...” De um salto alcancei a porta, e não
“mais o vi. Oh a loucura faminta de desejo !...”

“Ha sete dias que Jorge não vem. Francisco está
“com cuidado, attribue á doença.”

“Mamãe, hojo me disse á guisa de conselho: —
“Não sei porque teu marido admitte na intimidade
“um rapaz moço e insinuente como Jorge... E´ um
“perigo... Incommodam-me as suas idas diarias á
“tua casa...” — “Jorge é como irmão de Francisco.”
“— respondi-lhe — e depois não sou nenhuma levia-
“na... Nunca poderia gostar de Jorge... accrescen-
“tei.— “Tens razão, o coração da mulher casada é
“mudo; é todo do marido” — ajuntou Mamãe, satis-
"feita de meu muito juizo.”