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“Após dez dias de ausencia, Jorge appareceu.
“Disse a Francisco que estivera doente, de cama, com
“muita febre. Apenas lhe apertei a mão.”

“Quasi não falo a Jorge. Dou-lhe sempre as
“costas.”

“Maltratas a Jorge, não trocas palavras com
“elle; ignoro a razão “— reprimendou-me Francisco,
“— Estou fatigada de sua conversa. Não o acho in-
“telligente” — desculpei-me assim, tomada de impro-
“viso.— “Jorge é muito distincto; fez um curso bri-
“lhante na Escola Polytechnica; e, além d´isso, somos
“amigos desde a infancia; devo-lhe um grande favor;
“foi-me enfermeiro, quando apanhei o typho. Peço-te
“lhe testemunhes maxima estima”, — finalizou elle”

“Minha irmã, perdôa-me, perdôa-me, endoideço
“assim sem ouvir-lhe a voz, sem lhe saber do espirito,
“sem lhe sentir o olhar... O desejo do homem não é
“a vontade mansa, colorida da mulher... Elle é tene-
“broso, impulsivo, colerico como a sofreguidão rapa-
“ciosa dos naufragos... Perdôa-me, oh, perdôa-me...”
“Nos olhos de Jorge surdiam lagrimas. Extendi-lhe
“as mãos e elle curvou-se em reverencia profunda e
“respeitosa.”

“Os dias me fatigam, as horas descem; pousam-
“se sobre mim; quedam-se em mim, como cousas que
“so não querem ir embora...”

“Dous annos de casamento: dous annos de uni-
“formidade, de mutações immutaveis..."

“Oh! Thêo! Oh! minha desordem magnifica,
“então não vens? Toma-me, dou-me à ti...” Meus
“olhos se fecharam, e eu inteira me inclinava para