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— A arte é immortal, é inveterada — sentenciou a Sra. de Assis, séria.

Relanceando os olhos pelas mesas:

— Que bronze perfeito! E´ novo? ainda o não tinha visto — e nas suas mãos rodava lentamente uma estatueta magnifica, 1º premio do “Salon”.

— Tenho-a, já ha algum tempo — respondeu-lhe sua mãe.

Ladice, inteira, muda, sem ouvil-a, reverente, em attitude de adoração, se immobilizava deante d´essa figura incomparavel, que representava a “Convulsão”: Era uma mulher, esguia, estrebuchante, de linhas morbidas e membros escorregadios, deitada obliquamente sobre uma pelle de panthera; os cabellos descidos, emmaranhavam-se-lhe nas curvas finas dos hombros; a cabeça fatigada, caida, servia-lhe assim como os rins, de ponto de apoio; o dorso se erguia em arco, o braço direito teso, estirado, congregava toda a força vital; em seus pulsos delicados, dois sulcos compridos. Os olhos de Ladice pararam longamente n´essas fendas de seducção, indecisos, se realmente eram devidas ás crispações nervosas ou nos beijos innumeraveis de seus amantes que, segundo os beijos dos peregrinos, gastam as pedras santas dos lugares sagrados de Jerusalém... Ladice continuou seu exame detalhado: À mão se fechava em forte contracção, o pé minusculo retrahia-se pela violencia do abalo; as narinas se incendiam; as palpebras baixavam sobre pupillas dilatadas, e os labios abriam-se, mostrando dente contra dente... A Senhora de Ássis não se podia despegar d´essa mulher no paroxismo da con-