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cabellos atados, nos braços cruzados dos Anjos, nos pézinhos roseos do Infante que sorri...

A porta abriu-se silenciosamente. Ladice appateceu formosa, radiante. Emquanto era apresentado, Armando esforçava-se por occultar sua admiração; seus olhos collavam-se n´aquelle corpo que tinha o grande fremito da vida; subiam, desciam, entravam-lhe pela pelle, sem poder sair, sem ainda distinguir traços de outros traços, não vendo senão um rosto feito de lirios ardentes e uns cabellos fluctuantes, onde Cupidos pareciam brincar em suas ondas.

Pouco a pouco, seus olhares, ubiquos a principio, foram-se fitando, parando, retendo, suspendendo n´essa fragilidade branca e rosea que encerrava uma alma tão cheia de primaveras esplendidas.

Em linguagem simples, mas eloquente, Armando expoz-lhe sua missão e a esperança que o alentava de que a Senhora de Ássis não deixaria de ouvir o seu appello em favôr das creanças pobres.

Ladice quiz esquivar-se; ella tinha certa relutancia em se exhibir em publico, em acotovelar a multidão, em fazer parte do povo... Mas o chronista insistia :

— E´ uma acção quasi divina, que vai praticar — transformar flôres em pão para os orphãos. — Elle sorria, e mostrava uns dentes muito unidos e pontudos.

Depois de certa hesitação, Ladice accedeu; era um acto de caridade, que ia praticar, esse sentimento fixo, permanente, prompto, a fome, a sêde de sua alma; sentimento estridente, que se não abrandava,