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balhos de sua imaginação laboriosa volviam-se para Theophilo, para o poeta bem amado, como para seu ether luminoso e necessario. Picava-lhe o intimo o mesmo e formidavel desejo que atormenta o universo, as luas exangues, os helianthos virgens, que tombam, e os corações mortos, frios, apodrecidos, mas que esperam sempre: elle era-lhe o fogo, a rima estuante, o espelhinho grego de bronze onde ella se mirava...

A sala enchera-se. Francisco recebia n´essa noite alguns amigos politicos. A Senhora de Ássis com sua pallidez de maguolia e seu corpo abietino de amphora grega e a graça de suas attitudes orientaes, attrahia irresistivelmente os olhares dos homens.

O elegante chronista ainda lhe não abandonára o lado, comprazia-se com ouvir-lhe as theorias, com o modo de ser tão seu.

— Sim, o poeta sem amôr seria uma impossibilidade physica e methaphysica, como bem diz Cartyle — redarguiu Ladice.

— Acha então que o poeta se não deve casar? — interrogou Armando.

— Seria, então, um infeliz... O amôr do poeta é vehemente, forte, mas inconstante... Elle ama a mulher, a natureza e a amante igualmente. — Ladice em mente exeluia Theophilo.

— Não devemos pedir aos intelleetuaes o que exigimos do commum dos mortaes... Depois, qu´importa; é afinal o amor que triumpha...— replicou Armando.