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— Sim... é amor triumphante para quem tem seivas multiplas para quem sacia em as exaltações do pantheismo, as ancias de uma alma vibratil... Emquanto a mulher, geralmento entidade fraca... — e a mão de Ladice fina e branca abria-se e fechava-se como se ella sentisse o tremor immenso da natureza amorosa...

— Oh! a mulher contentar-se-ia com pertencer-lhe, ser-lhe a companheira fiel e orgulhosa... — interrompeu-lhe Armando. — E de resto, difficilimo encontrar-se uma cerebração viril em cabeça feminina — accrescentou elle.

— Viver em segundo plano, ser tida como uma lembrança esquecida, uma estrophe recitada, uma chamma apagada — ajuntou Ladice vivamente — apenas haver do marido o corpo vazio d´elle, é horrivel para o coração de uma mulher, Sr. Armando... — No enthusiasmo da conversa, Ladice chegára-se mais para a beira da cadeira e sua cara se achava bem em frente da cara do chronista.

— Perdão... mas nem todas são como a Senhora... E´ inedita. Não devo, portanto, generalizar uma excepção — respondeu Armando sério.

Proferida por bocas diversas, Ladice ouvia essa phrase “nem todas são como a Senhora” pela terceira vez. Seria ella realmente assim differente das outras, um rythmo ainda não modulado? Em sua consciencia, vaidades innumeraveis desdobravam-se.

— A mulher deve ser o incitamento espiritual, e segredo de deslumbramentos, a auxiliar intellectual do marido, a sua arte. — Ao enunciar essas palavras a