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a mim!... Quero levar-te longe, além, em esse Oriente azul, jardim inebriante de emoções... Repousarás em sombras ardentes, ao abrigo de arvores altas, classicas e graves... Seus galhos unidos, liados, enramados, a se empurrarem, famintos de sol, de ether, de espaço, extender-se-ão sobre ti, qual doce! vivo, sensivel, ondulante... Deitar-te-às sobre camadas de papoulas, de rosas, de nelumbos, de papyros que, impregnados de teu calor, serão quaes mil pequenas bocas a te acariciarem o corpo liso de esmalte branco... Tudo em volta, crepita, ferve, se inflamma... As mulheres que passarem trarão em as linhas magras e nervosas de seus membros, subtilezas, vehemencias de champanha, de serenatas, de guitarras plangentes... O ar está quente, e o sangue de tuas veias e teus cabellos que se emmaranham... Divinamente pallida, ficarás immobil, convulsa, pelas harmonias languidas, pelo delirio de vida, de volupia que se evola d´esse amante eternamente forte, inesgotavel, apaixonado — a natureza! Oh, vêm, commigo que sou artista e que te saberei amar... Do teu corpo estreito e juvenil farei poemas, onde a juventude vindoura se queimará, se exaltará... Perpetuarei o prazer, o riso, a melancolia, as lagrimas, os contrastes intensos de tua alma de Virgem e de bacchante...”

Armando passou grande parte da noite a escrever; as phrases corriam-lhe abundantes; sua fantasia dilatava-se em considerando os atavios maravilhosos é perfeitos da Senhora de Assis.